O petróleo é responsável por grande parte das emissões de CO2 e por isso carros elétricos são vistos como um fator para diminuir o impacto ecológico
Carros elétricos são tão antigos quanto os próprios veículos a motor. Em 1828, o padre húngaro Ányos Jedlik projetou e construiu um pequeno motor elétrico e mais tarde acoplou em uma miniatura para testes. Décadas mais tarde, em 1859, o francês Gaston Planté criou a primeira bateria recarregável da história.
O primeiro veículo a contar com passageiro movido a eletricidade foi criado pelo também francês Gustave Trouvé em 1881. Registros apontam que o inglês Thomas Parker construiu, em 1884, seu próprio veículo elétrico que usava para ir ao trabalho todos os dias e o mais famoso de todos, o Flocken Elektrowagen, criado em 1888 pelo empresário alemão Andreas Flocken (ESTADÃO, 2023).
Veículos elétricos estão presentes no mundo há quase dois séculos e chegaram a representar 38% da frota dos Estados Unidos em 1900. Inclusive, o primeiro veículo a romper a barreira dos 100 km/h foi um elétrico chamado Jamais Contente pertencente ao belga Camille Jenatzy. Sua influência era tão grande que chegaram a participar dos Jogos Olímpicos de 1900 com provas de 300 quilômetros (OLHAR DIGITAL, 2022).
No entanto, em 1912, mesmo ano do naufrágio mais famoso de todos, o Titanic, Charles Kettering desenvolveu o motor de arranque, o qual consiste em um pequeno motor elétrico que aciona o motor a gasolina. Esse equipamento deu uma vantagem aos carros a gasolina, pois substituía o acionamento por manivela (OLHAR DIGITAL, 2022).
Em 1908, chegava ao mercado o Ford Model T, carro que ajudou a consolidar motores a gasolina como padrão ao vender mais de 15 milhões de unidades até 1927 e chegou a representar metade de todos os carros vendidos no mundo em 1920, como explicado pelo site da Ford.
Além da ascensão da Ford, a década de 1920 viu a o Texas se tornar um dos maiores produtores de petróleo do mundo, contribuindo diretamente para o barateamento da gasolina. As terras ricas no óleo pertenciam à tribo Osage, os quais se tornaram milionários em meio a uma história de violência e traição, episódio que inspirou o filme do renomado diretor Martin Scorsese (BBC, 2023).
CRISE DE PETRÓLEO E NASA
A crise do petróleo iniciada em 1973 aumentou subitamente o preço da gasolina na América do Norte e partes da Europa e Ásia. Com isso, motores a gasolina, principalmente os V8s, passaram a ser menos utilizados por seu baixo rendimento por litro (O GLOBO, 2016).
A crise impulsionou os carros elétricos como uma alternativa viável, destacando sua relevância e confiabilidade. Um exemplo marcante foi o primeiro veículo lunar, o LRV (Jipe Lunar), transportado pela missão Apollo 15 em 1971, que utilizava um motor elétrico e demonstrou sua eficiência mesmo em condições extremas (AUTO & TECNICA, 2024).
CARROS ELÉTRICOS E POLUIÇÃO
Como vimos acima, a geração de energia é o setor que mais polui pela ampla queima de combustíveis fósseis, representando 25% das emissões, como apontado pela ONU. Por isso, espetar um carro na tomada nos Estados Unidos, Europa e Ásia contribui para a queima de petróleo, carvão, gás ou lenhite.
Alterar a dinâmica de geração de energia não é tarefa fácil. Consolidado há mais de um século, a economia mundial está adaptada ao óleo das profundezas da crosta. A guerra entre Rússia e Ucrânia fez o preço da energia subir na União Europeia. Somente no primeiro semestre de 2024 subiu 15% (OBSERVADOR, 2024).
Uma publicação do Conselho da União Europeia, em 2022, apontou que desde a pandemia de COVID-19, o preço da energia foi afetado. Isso aconteceu da redução temporária durante a pior fase da pandemia já que indústrias estavam fechadas. Após as vacinas, a demanda aumentou rapidamente, mas a produção de petróleo, gás e carvão não foi capaz de suprir a demanda, o que ocasionou elevação dos preços. Em 2022, uma onda de calor colocou o setor de energia da Europa à prova. De um lado, maior consumo por conta de ar-condicionado, por outro a falta de água diminuiu o poder de produção das hidrelétricas.
Um artigo publicado pela Universidade Cornell aponta que a recarga de múltiplos carros elétricos ao mesmo tempo podem sobrecarregar a estrutura e desestabilizar o sistema de transmissão de energia. Caso 10% dos carros de Portugal seja elétricos, quedas de tensão serão constantes, conforme resultados da projeção do artigo. Mesmo assim, com o tempo, os países vão adaptar suas matrizes para suportar maior esforço, solucionando o problema. Mesmo assim, a recarga fica atrelada à necessidade de queima de combustíveis fósseis. O caso da subida no preço da energia com o uso de ar-condicionado em 2022 pode mostrar um panorama de aumento na energia com mais carros elétricos, o que pode comprometer o argumento de economia desses veículos.
Problemas sociais da extração de cobalto
Para que a indústria de carros elétricos possa ser considerada limpa, vários problemas precisam ser resolvidos. O primeiro – e mais cruel – é a mão de obra análoga à escravidão empregada nas rudimentares minas de cobalto na República Democrática do Congo. Trabalhando para receber entre um a dois dólares por dia, de crianças aos mais velhos, milhões de pessoas carregam sacos de aproximadamente 20 quilos de terra rica em cobalto por horas a fio, todos os dias e recebem o suficiente apenas para sua subsistência.
Grandes corporações do setor de tecnologia como fabricantes de eletrônicos e veículos já foram apontados como participantes conscientes do processo de extração extenuante de cobalto e chegaram responder judicialmente (BBC, 2019).
Agora, no entanto, a Alemanha adotou a Lei de Due Diligence da Cadeia de Abastecimento (LkSG) que entrou em vigor em 2023 e que exige que empresas com mais de 1.000 funcionários garantam que sua cadeia de abastecimento de matéria-prima sigam os direitos humanos. Assim, empresas menores também são impactadas já que normalmente fornecem para essas empresas maiores.
A reciclagem de baterias é um fator obrigatório já que até 2060 todo o lítio será consumido e 90% do cobalto. Já com reciclagem, é possível chegar até o ano de 2100 com metade das reservas ainda preservadas, como aponta uma publicação da União de Cientistas Preocupados.
Uso de água na extração de silício
Outro metal que é amplamente utilizado na fabricação de baterias é o lítio e sua extração exige grande quantidade de água. Atualmente, as maiores concentrações desse metal se encontram no Triângulo do Lítio, região que fica nos salares dos andes entre Argentina, Bolívia e Chile. Dentre eles, o Chile representa um quarto da produção mundial.
O lítio está na forma de sal na natureza, diluído em águas subterrâneas e para extraí-lo é preciso bombear a água, chamada de salmoura, para as piscinas de evaporação. Assim, a água evapora e deixa o lítio, junto a outros materiais, em forma de sal. O problema é que são necessários em trone de 2 milhões de litros de água por tonelada de lítio, quantidade suficiente para produzir cerca de 80 veículos elétricos. A retirada de tanta água do subsolo causa desvios do fluxo natural, provocando a morte de vegetação e animais, principalmente na região desértica que é um habitat naturalmente seco.
Os dados apresentados nas duas reportagens parecem desanimar o futuro movido a eletricidade. No entanto, a União Europeia tem estimulado a reciclagem de baterias como forma de não depender do mercado chinês desse componente, bem como de diminuir a emissão de poluentes. Assim, Volkswagen e Mercedes-Benz e a fabricante sueca de baterias Northvolt investem em formas de tornar a reciclagem economicamente interessante (DW, 2024).
Como vimos, a reciclagem pode fazer com que os recursos, principalmente de cobalto e lítio, durem por muito mais tempo. Então, a ação é necessária para a sobrevivência não apenas dos veículos a bateria, mas de todo o setor de eletrônicos. A sueca conseguiu, em 2021, produzir uma bateria 100% de reciclada e planeja atingir 300 mil toneladas de baterias do tipo até 2030. Assim, a marca prova que é economicamente viável, o que pode ser uma luz em meio a tantos desafios.
Em relação à matriz energética, novamente a União Europeia tem metas de atingir 75% de energia renovável até 2050. A Grã-Bretanha é ainda mais ambiciosa, pretendendo atingir 87% até 2030. O Acordo Verde Europeu, publicado em 2019, é visto como ambicioso, mas possível. A reestruturação da matriz e a reciclagem de baterias lideradas pela União Europeia pode ser o caminho para a diminuição da poluição e a adoção em larga escala dos carros elétricos.
Se você chegou até aqui, considere proteger seu veículo contra roubo, colisão e muito mais na UB com mensalidades acessíveis. Clique no ícone do WhatsApp e receba uma cotação gratuita.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A HISTÓRIA DOS CARROS ELÉTRICOS. Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/mobilidade-urbana-smart-cities/212835-historia-carros-eletricos-saiba-tudo-comecou.html. Acesso em: 23 nov. 2024.
ORIGEM DO CARRO ELÉTRICO ABRIU CAMINHO PARA OS MODELOS ATUAIS. Disponível em: https://mobilidade.estadao.com.br/inovacao/origem-do-carro-eletrico-abriu-caminho-para-os-modelos-atuais/. Acesso em: 24 nov. 2024.
PASSADO ELÉTRICO: EM 1900, ELÉTRICOS ERAM 38% DOS VEÍCULOS VENDIDOS; ENTENDA O QUE DEU ERRADO. Disponível em: https://olhardigital.com.br/2022/01/02/carros-e-tecnologia/passado-eletrico-em-1900-eletricos-eram-38-dos-veiculos-vendidos-entenda-o-que-deu-errado/. Acesso em: 25 nov. 2024.
116 ANOS DO FORD T, PRIMEIRO CARRO POPULAR DA HISTÓRIA; VEJA CURIOSIDADES. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/auto/116-anos-do-ford-t-primeiro-carro-popular-da-historia-veja-curiosidades/#:~:text=O%20Modelo%20T%20foi%20o,15%20milh%C3%B5es%20de%20unidades%20vendidas. Acesso em: 26 nov. 2024.
FORD MODELO T, PRIMEIRO CARRO POPULAR DA HISTÓRIA, COMEMORA 110 ANOS DE LANÇAMENTO. Disponível em: https://media.ford.com/content/fordmedia/fsa/br/pt/news/2018/10/02/ford-modelo-t–primeiro-carro-popular-da-historia–comemora-110-.html. Acesso em: 27 nov. 2024.
A ONDA DE ASSASSINATOS DE INDÍGENAS MILIONÁRIOS NOS ANOS 1920 QUE INSPIROU FILME DE SCORSESE. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c3g3zqye347o. Acesso em: 24 nov. 2024.
RETROVISOR: ‘DOWNSIZING’ PARA FUGIR DA CRISE DO PETRÓLEO. Disponível em: https://oglobo.globo.com/economia/carros/retrovisor-downsizing-para-fugir-da-crise-do-petroleo-20471976. Acesso em: 22 nov. 2024.
O “CARRO MAIS CARO DO MUNDO” FEZ SUA ESTREIA HÁ 53 ANOS… NA LUA! Disponível em: http://autoetecnica.band.uol.com.br/o-carro-mais-caro-do-mundo-fez-sua-estreia-ha-53-anos-na-lua/#:~:text=No%20dia%2031%20de%20julho,simplesmente%20de%20%E2%80%9Cjipe%20lunar%E2%80%9D. Acesso em: 25 nov. 2024.
ALEMANHA APROVA INCENTIVOS FISCAIS PARA CARROS ELÉTRICOS EM MEIO A PROBLEMAS DA VOLKSWAGEN. Disponível em: https://valor.globo.com/mundo/noticia/2024/09/04/alemanha-aprova-incentivos-fiscais-para-carros-eletricos-em-meio-a-problemas-da-volkswagen.ghtml. Acesso em: 26 nov. 2024.
PREÇO DA ELETRICIDADE SUBIU 15% NO PRIMEIRO SEMESTRE, MAS PORTUGAL PAGA MENOS QUE ESPANHA E MÉDIA DA UE. Disponível em: https://observador.pt/2024/10/28/preco-da-eletricidade-subiu-15-no-primeiro-semestre-mas-portugal-paga-menos-que-espanha-e-media-da-ue/. Acesso em: 22 nov. 2024.
AUMENTO DOS PREÇOS DA ENERGIA DESDE 2021. Disponível em: https://www.consilium.europa.eu/pt/infographics/energy-prices-2021/#:~:text=Pre%C3%A7os%20da%20energia%20no%20produtor%20e%20no%20consumidor%20na%20UE&text=os%20pre%C3%A7os%20da%20energia%20no,105%2C4%20para%20172%2C3. Acesso em: 23 nov. 2024.
O QUE LEVA APPLE, GOOGLE, TESLA E OUTRAS EMPRESAS A SEREM ACUSADAS DE LUCRAR COM TRABALHO INFANTIL NA ÁFRICA. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-50828077. Acesso em: 24 nov. 2024.
EXTRAÇÃO DE COBALTO NO CONGO – SITUAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS. Disponível em: https://diss-co.tech/pt/cadeia-de-abastecimento-ato-lksg-melhoria-das-condicoes/. Acesso em: 25 nov. 2024.
AS ESPANTOSAS PAISAGENS CRIADAS PELA EXPLORAÇÃO DO LÍTIO NA AMÉRICA DO SUL. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58324158. Acesso em: 22 nov. 2024.
EXTRAÇÃO DE LÍTIO NA AMÉRICA DO SUL GERA ESPERANÇA E DESILUSÃO. Disponível em: https://istoedinheiro.com.br/extracao-de-litio-na-america-do-sul-gera-esperanca-e-desilusao/. Acesso em: 26 nov. 2024.
ARE THERE ENOUGH MATERIALS TO MANUFACTURE ALL THE ELECTRIC VEHICLES NEEDED? Disponível em: https://blog.ucsusa.org/jessica-dunn/are-there-enough-materials-to-manufacture-all-the-electric-vehicles-needed/. Acesso em: 27 nov. 2024.